quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Projeto “Resgatando vidas”

Hoje tive o desprazer de ler a seguinte notícia, publicada em 16/fev no site oficial do governo do Estado da Paraíba:
http://www.paraiba.pb.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=37951&Itemid=2
O objetivo [do projeto] é usar a palavra de Deus para ajudar na diminuição da criminalidade da região. “(...) é necessário ir de encontro à fonte dos problemas e a orientação religiosa pode transformar vidas nestas cidades”, argumenta o capital(sic) Fabian.

Primeiro gostaria de deixar claro que o art. 19 da Constituição Federal deixa claro que o Brasil é um estado laico, one deve-se respeitar a separação entre a igreja e o estado, o que torna o projeto "Resgatando Vidas" claramente inconstitucional.

Mas o problema maior aqui não é esse. O problema é o profundo preconceito contra as pessoas que não acreditam em Deus, evidente já no título do programa, que indica que as vidas daqueles que não acreditam em Deus está perdida, e na frase "é necessário ir de encontro à fonte dos problemas", que indica que a falta de crença em Deus leva as pessoas a cometerem crimes. Essa afirmação é completamente estapafúrdia, e existem inúmeras linhas de evidência que demonstram que é completamente infundada:

1. Em um estudo publicado no Journal of Religion & Society (link em inglês), constata-se que os países com menor crença religiosa também tem o menor índice de crimes. No Japão por exemplo, mais do que 80% aceitam a teoria da evolução e menos de 10% dizem estar certos de que exista um Deus. Apesar de ter mais de 100 milhões de pessoas em pouco espaço, o Japão é um dos países com as menores taxas de criminalidade no mundo, além de ter as menores taxas de gravidez adolescente de qualquer país desenvolvido. Não estou querendo aqui dizer que existe uma efeito de causalidade entre a falta de religião e a baixa criminalidade, mas certamente existe uma correlação, e esse contra-exemplo é mais que suficiente para mostrar que a idéia de que falta de religião é "a fonte dos problemas", é falsa, e absurdamente preconceituosa.

2. Para países onde existem estatísticas disponíveis sobre as preferências religiosas das populações carcerárias (não encontrei nada sobre isso para o Brasil), a parcela da população carcerária que se identifica como ateu ou agnóstico é normalmente bem menor que 1%, mesmo quando esses números são maiores que 10% na população em geral. Novamente, não estou querendo implicar aqui uma relação de causalidade, mas se falta de religião fosse "a fonte dos problemas", seria de se esperar que a população carcerária estivesse estulhada de ateus e agnósticos. Certamente não é o que vemos.

Deveria parecer absurda a idéia de que para diminuir a criminalidade, deveríamos tentar espalhar uma doutrina que afirma que se arrependendo e pedindo perdão você poderá ser perdoado de todos os seus crimes e pecados. Certamente parece absurdo pra mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas... e daí?

Petrucio disse...

E dai que estamos gastando dinheiro público com algo que evidentemente não tratá benefícios, possivelmente tratá malefícios, é preconceituoso, e inconstituciosal. COMO ASSSIM E DAÍ? Queres limpar o cú com dinheiro?

Petrucio disse...

E dai que o governo está endorsando uma religião, algo claramente fora da sua esfera de atuação, e contribuindo para manter o estado deplorável do atual zeitgeist cultural.